mais um filme para a conta

Demorei um século para escolher um filme no catálogo de streaming, isso por ser verdade o que se diz, quanto mais opções, mais complicado é para se escolher. Em todo caso, escolhi um filme de 1996 (típico meu), chamado “O espelho tem duas fases”.

Não foi a sinopse do filme, elenco, gênero, nem nada que me fez querer assisti-lo, mas eu gosto muito dos filmes dos anos 90 com aquele ar de “gravação saturada e granulada”.

O modo como o casal se conhece e se desenvolve é um tanto quanto inusitada. Ele queria sair com alguém para além da aparência, no qual o sexo não fosse o foco. Fez um anúncio e a irmã da mocinha respondeu ao artigo.

Gostei de vê-la na aula quando abordou a temática dos arquétipos femininos, em como se construiu o amor romântico (para além do casamento), além de responder o porquê, mesmo sabendo das complicações dos enlaces, ainda assim, escolhemos entrar em tal coisa.

Quando eles têm o primeiro “encontro”, céus, logo se vê que ela é cheia de manias e ele ama falar do que leciona — ah, ambos são professores, ele, de matemática, ela, de literatura. Eles são um casal normal, bem comuns e sem qualquer coisa de especial ou mesmo extraordinário, apenas seres comuns em busca de uma relação simples e descomplicada.

Confesso, mesmo ele sendo um pouco desinteressante a princípio, fiquei intrigada por ele observar as manias delas logo no começo (mostrou que parecia no mínimo interessado na pessoa com quem interagia), e mesmo o vendo assim, ora, bem que eu gostaria de um crush que me convidasse (como ele o fez) para um concerto. Curto música e adoraria sentir o arrepio que é possível sentir ao ouvir ao vivo uma orquestra.

Greg (o nosso mocinho doido) tem uma visão pragmática demais do romance, e isso devido a um mal-entendido — ele ouviu pela metade um argumento, mas foi longe na dedução da coisa — e Rose (nossa mocinha tão doida quanto) fica até sem saber como poderia conduzir as coisas com aquele neurótico.

Sei que não cai na graças de muitos esse tipo de filme, mas cai no meu como uma luva. Me sinto curiosa para saber onde aquela neurose pode levar e a que destino eles serão conduzidos, e claro, que argumentos usam para essas escolhas que tomam. Não sei bem como explicar, mas gosto desses romances nada a ver, casais nada a ver, enredo nada a ver. Não tem sexo como ponto-chave, não tem uma grande paixão (pelo menos não como a conhecemos), não tem grandes cenas espetaculosas, apenas… dois atores fazendo o melhor que podem em um enredo inusitado.

No filme, quando chegou aquela cena no qual o Greg foi jantar na casa da Rose… Céus, o que tinha ali pra eu sentir vergonha alheia? Só o Universo para saber. Mas ainda assim, achei aquele cara chato fofo, simplesmente fofo e também não sei como. Mas… Só sim! A fofura não foi com a coisa do casamento, afinal, ele foi tapado como uma porta, mesmo a Rose sendo uma criatura adorável. Entendemos que apesar da coisa estranha ao se relacionar com o Greg, ele de certa forma contribuiu para ela se conhecer melhor e alimentar a autoestima — claro, quando se viu forçada a tal.

Nesse enredo maluco, eu seria o melhor amigo do Greg: Henry, o antropólogo — e isso já diz tudo o que precisam saber. Mas sim, me perguntaria se entraria em um lance como esse e o que poderia esperar… de uma relação funcional, platônica e pragmática… Quem disse que se tem modelo, forma correta afinal?

O que esperamos das pessoas com quem nos relacionamos? O que fazemos com nossas expectativas? O que fazer quando as ignoramos ou abrimos mãos?

Quando assisto filmes como esses, em que são protagonizados por personagens estranhos, ou com motivações estranhas, percebo como minhas predileções de algum modo são esquisitas também, e como elas falam um pouco sobre mim ao mesmo tempo…

É sério, é um enredo esquisito, mas também é legal. E não recomendo… mas se quiser assistir, vá em frente!

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